A Europa não aguentaria La Paz
Me diga, parceiro, quando foi que o futebol virou linha de Excel para o europeu de terno engomado? Porque assim parece visto de longe, quando tentam transformar o Mundial de Clubes num desfile previsível, feito pra exibir escudos e marcas, não para exaltar quem joga por amor e ousadia. Mas aqui, desse lado do Atlântico, não temos medo de nome nem de mapa. Não temos medo de escudo bordado a ouro, de grife ou de conta no paraíso fiscal. Porque aqui, irmão, o futebol não nasce no powerpoint, nasce no barro e no asfalto, no suor e no grito, no sangue quente e no coração acelerado.
Foi assim quando o Palmeiras entrou em campo contra o Porto e não pediu licença pra segurar o Dragão, não pediu licença pra mostrar que uma muralha viva não precisa de convite pra roubar a noite. Weverton não pediu licença pra transformar a meta num altar sagrado e lembrar aos europeus que aqui não tem só técnica — tem paixão e vontade de não dobrar a espinha.
Foi assim quando o Boca abriu 2 a 0 contra o Benfica e não pediu licença pra transformar uma noite quente em batalha de nervos e magia, tão sul-americana, tão humana. Não pediu licença pra mostrar que não joga pra parecer forte, joga pra ser forte, pra não pedir desculpa por existir.
Foi assim quando o Fluminense disparou quatorze vezes contra o Borussia e não pediu licença pra transformar uma partida num poema de tentativas e intensidade. Não pediu licença pra calar quem acha que só existe futebol quando nasce no lado de lá do mapa.
E foi assim quando o Botafogo entrou no Rose Bowl e não pediu licença pra enterrar doze anos de invencibilidade europeia. Não pediu licença pra cravar no canto da história uma prova viva de que quem joga por amor não joga pra parecer, joga pra ser.
No fundo, parceiro, o que bate no peito de cada time daqui não passa por planilha de investimento ou por aprovação de conselho de acionistas. O que bate no peito do futebol sul-americano passa pela rua, pela arquibancada de cimento quente, passa pela memória de quem cresceu vendo bola e barro misturados, passa pela magia de quem não entende o jogo como produto, mas como rito.
Enquanto o Velho Continente tenta transformar o Mundial num PowerPoint de cifras e escudos reluzentes, nós seguimos aqui, inventando e resistindo. Porque aqui cada bola dividida não passa por contrato, passa pela alma. Porque aqui cada gol marcado não passa por mapa, passa direto para o coração.
E assim continuaremos, irmão. Não pra pedir licença pra ganhar. Não pra esperar aprovação ou aplauso. Não pra parecer fortes. Mas pra mostrar que somos fortes. Porque aqui, debaixo desse sol quente e dessa chuva fina de suor e barro, futebol não tem fronteira, não tem dono e não tem mapa. Futebol tem memória, tem amor e tem sangue quente. E isso, parceiro, não dá pra desenhar no PowerPoint. Isso dá pra viver no gramado, dá pra cravar no peito e levar pra história. Porque futebol, por mais que tentem transformar, não se compra, não se engarrafa e não se apaga. Futebol respira e bate no peito de quem entende que a bola não passa por assinatura ou contrato, passa por quem joga pra viver e não pra parecer.